quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A consciência de dois de meus amigos “negão”


É evidente que existe o preconceito, mas o preconceito, assim como o ódio é algo que se ensina e/ou se aprende. Quem tem berço, mormente observa o caráter, a atitude da pessoa.


Hoje vivemos, no Brasil, um regime de exceção. Vivemos com medo de dirigir palavras às pessoas; não podemos fazer piadas, não temos liberdade nem para torcer num campo de futebol.

Acusa-se de machista, homofóbico, racista, xenofóbico, entre tantos termos rotulados às minorias, militantes, os sem isso, sem aquilo, oprimidos, os que têm direitos e os que têm, ainda, mais direitos.

Sou um dito cidadão respeitável nascido na década de 60, sob o tal regime ditatorial, que nem de longe representa o que se apresenta ao que aí está.

Tive uma vida boa e livre. Só fui tesourado, tolhido, abafado e calado pelos padres jesuítas do primeiro colégio onde estudei.

Venho de uma família que ralou muito para chegar lá. Estudei em colégios particulares e, quando tive a oportunidade de estar na escola pública, por mérito pois passei no Vestibulinho da GV em 33º lugar no curso de mecânica , tive de enfrentar as primeiras greves dos professores. Era o início dos anos 80. Voltei para a escola particular.

Foi na escola pública que conheci os primeiros passos da militância politica, embora já tivesse participado de centros cívicos nas escolas particulares; entretanto, o movimento partidário o PT através do oPTei era mágico, e foram ali os passos embrionários dos movimentos de cunho racial e gay, pois não havia tantos gêneros assim. E não havia ainda a aids, apenas o burburinho do câncer gay. Mas vamos focar na militância negra.

Vou apartar termo significativo para a data em questão dois de meus amigos.

Um deles resolveu militar e outro não quis saber de Zumbi, congada, ou seja, lá o que remeta a cor e a raça.

O militante passou a ter um olhar desconfiado, viver na defensiva, se achar deixado de lado, perseguido, justificar seus fracassos pela cor da pele.

Era dono de uma legítima arrogância, que ele e muitos confundiam com orgulho. Passou a ter uma postura radical, conversas chatas; tudo era direito, em todos os lugares ele dizia “Viu como a pessoa me olhou...”; por vezes perdia até uma paquera!

Sua vida se resumiu aos direitos quilombolas, ao mundo afrocentrado, ao Zumbi, Dandara, Racionais, Periferia manda, Pra você que é branco a vida é mais fácil.

A amizade, o carinho e o respeito foram minando, minguando e tudo se acabou num afastamento sintomático.

O outro amigo nunca ligou pra cor da pele. Trabalhou duro. Nunca justificou seu fracasso e sempre exaltou e compartilhou seus triunfos. Aliás, aprendeu com os erros e tem orgulho e confiança, além da humildade de reconhecer os próprios erros. Quando alguém olhava diferente, ou ele comia ou saia no braço.

Hoje ele é meu patrão. Ele paga salário para um cara da elite branca.

Talvez essa seja a síntese para o dia da consciência negra: ter a consciência de que somos todos iguais, querendo um país justo, decente e limpo. Sem mentiras, roubos, denúncias diárias de desvios de verbas públicas, com liberdade de imprensa, livre mercado e meritocracia. Sem a necessidade de cotas e direitos especiais – se levadas ao pé da letra: inconstitucionais.
Perguntado sobre o tema, o ator Morgan Freeman disse que se um dia parássemos de lembrar a cor da pele das pessoas, a questão racial perderia a importância.

Para tal, não se precisa de um feriado enfiado goela abaixo como os patrões faziam nos tempos da escravidão.

 


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