É evidente que existe o preconceito, mas o preconceito, assim como o ódio é algo que se ensina e/ou se aprende. Quem tem berço, mormente observa o caráter, a atitude da pessoa.
Hoje vivemos, no Brasil, um regime de exceção. Vivemos com medo de
dirigir palavras às pessoas; não podemos fazer piadas, não temos liberdade nem
para torcer num campo de futebol.
Acusa-se de machista, homofóbico, racista, xenofóbico, entre tantos
termos rotulados às minorias, militantes, os sem isso, sem aquilo, oprimidos,
os que têm direitos e os que têm, ainda, mais direitos.
Sou um dito cidadão respeitável nascido na década de 60, sob o tal
regime ditatorial, que nem de longe representa o que se apresenta ao que aí
está.
Tive uma vida boa e livre. Só fui tesourado, tolhido, abafado e calado
pelos padres jesuítas do primeiro colégio onde estudei.
Venho de uma família que ralou muito para chegar lá. Estudei em colégios
particulares e, quando tive a oportunidade de estar na escola pública, por mérito — pois passei no Vestibulinho da GV em 33º lugar no curso de mecânica —, tive de enfrentar as primeiras greves dos professores. Era o início dos
anos 80. Voltei para a escola particular.
Foi na escola pública que conheci os primeiros passos da militância
politica, embora já tivesse participado de centros cívicos nas escolas
particulares; entretanto, o movimento partidário — o PT através do oPTei — era mágico, e foram ali os passos embrionários dos movimentos de cunho racial
e gay, pois não havia tantos gêneros assim. E não havia ainda a aids, apenas o
burburinho do câncer gay. Mas vamos focar na militância negra.
Vou apartar — termo significativo para a data em questão — dois de meus amigos.
Um deles resolveu militar e outro não quis saber de Zumbi, congada, ou
seja, lá o que remeta a cor e a raça.
O militante passou a ter um olhar desconfiado, viver na defensiva, se
achar deixado de lado, perseguido, justificar seus fracassos pela cor da pele.
Era dono de uma legítima arrogância, que ele e muitos confundiam com
orgulho. Passou a ter uma postura radical, conversas chatas; tudo era direito,
em todos os lugares ele dizia “Viu como a pessoa me olhou...”; por vezes perdia até uma paquera!
Sua vida se resumiu aos direitos quilombolas, ao mundo afrocentrado, ao Zumbi, Dandara, Racionais, Periferia manda,
Pra você que é branco a vida é mais fácil.
A amizade, o carinho e o respeito foram minando, minguando e tudo se
acabou num afastamento sintomático.
O outro amigo nunca ligou pra cor da pele. Trabalhou duro. Nunca
justificou seu fracasso e sempre exaltou e compartilhou seus triunfos. Aliás,
aprendeu com os erros e tem orgulho e confiança, além da humildade de
reconhecer os próprios erros. Quando alguém olhava diferente, ou ele comia
ou saia no braço.
Hoje ele é meu patrão. Ele paga salário para um cara da elite branca.
Talvez essa seja a síntese para o dia da consciência negra: ter a consciência de que somos todos iguais,
querendo um país justo, decente e limpo. Sem mentiras, roubos, denúncias diárias de desvios de verbas públicas, com
liberdade de imprensa, livre mercado e meritocracia. Sem a necessidade de cotas
e direitos especiais – se levadas ao pé da letra: inconstitucionais.
Perguntado sobre o tema, o ator Morgan Freeman disse que se um dia
parássemos de lembrar a cor da pele das pessoas, a questão racial perderia a
importância.
Para tal, não se precisa de um feriado enfiado goela abaixo como os
patrões faziam nos tempos da escravidão.
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