terça-feira, 23 de março de 2010

Fatos da vida Real - A Noite que prometia!!!

A noite prometia. Véspera de feriado, meus pais viajando, casa vazia, duas garotas dando sopa e o carro à disposição. Lá estava eu, portas abertas, som no último, banhando-me de fronte ao espelho num banho de rei. Enxugo-me, me admiro e me perfumo por todas as partes, enfim, a noite seria daquelas. - Alô! Marcelo. Ta pronto. To descendo. Marcelo era aquele companheiro inseparável desde os tempos do maternal. Éramos unha e carne. Estudávamos juntos, trabalhávamos juntos, jogávamos futebol no mesmo time e caçávamos juntos. E naqueles nossos 18 anos, como caçávamos. - Passou de 20 kg é gol - Este era o nosso mantra, repetido à exaustão, com ar de vigarice. Chegamos ao encontro. As duas garotas estavam perfeitas. Lindas. - Ta no papo – Frase uníssona, seguido de um sorriso maroto. E realmente estavam no papo. Como as duas falavam. Aos poucos a noite perfeita se tornou a noite perdida. Não houve jeito de convencê-las a seguirem para um lugar mais calmo e, não fosse pelo beijo de despedida, seguido pela promessa de um novo encontro, a frustração seria muito maior. - Pô! Gastei meio vidro de xampu e perfume. – Era o assunto na decepcionante volta. Voltava para casa ao som de Barry Manilow, fita estrategicamente preparada para a ocasião. Parei no farol. Olhei no relógio e me assustei. - Ah, isso é que não! — Tentei em vão não acreditar. - Ai, playboy. Desliga a máquina senão eu te furo – Era a voz forte do homem por trás daquele cano negro. E agora? Instaurava-se naquele momento o mais autêntico Regime do Terror! - Ai, playboy. Abre a outra porta bem devagar. Abri a porta. No banco do caronista senta-se um ser indescritível. Uma criatura da noite com a voz anasalada. - Vai me dando a carteira – Ordenou o ser de voz anasalada. - Posso ficar com os documentos? - Deixa de graça e me passa a corrente e o relógio – Agora era o homem de voz forte que ordenava. - Que linda camisa. Tira! Tirei e entreguei. - Olha o cinto do pleyba, mano! Tira. - E tira o tênis e a calça também. - Isso é que não! — Bradei sem medir as conseqüências. - O mano, quem manda aqui é nóis – Falou gentilmente o ser de voz anasalada. Tirei e tive arrancados de minhas mãos. - Calvin Klein! - Isso é que não! – Só deu pra sentir a dor no rosto. Fui tirando devagar e entreguei. - Ai, playboy. Tu num foi um bom menino. A gente num sabe o que faz com tu – Era a voz do homem forte. Fechei os olhos para ter a momentânea ilusão de que sonhava. - Tu também num foi de tão mal - Agarrou-se à chave no contato quebrando-a e jogou o molho de chaves na boca de lobo. Os dois saíram caminhando tranquilamente pela madrugada. Findo o pesadelo, começava outro. Eu estava no carro sem chaves e nu. Saí do carro com a mão nas partes a procura de uma luz acesa. Toquei a campainha na primeira casa que vi. - Boa noite, minha senhora - Eu estava confuso. - Imagine que eu... A senhora, um tanto estarrecida, gritou: - Tem um homem pelado aqui na porta! É um tarado! Um homem rompe a porta da casa com uma vassoura na mão. - Não olha não! Já pra dentro! – Bradou o homem, vindo em minha direção. Voltei-me, acuado, apoiando o traseiro no muro, cobrindo a fronte com as mãos, tentando explicar-me... O homem então, encarou-me e sorriu. Contei-lhe a história. Daí ele riu, gargalhou. - Mulher, trás uma calça velha aqui pro cidadão! – Gritou olhando para dentro da casa. Coloquei a calça que imediatamente rasgou na parte de trás, tendo eu que segurá-la para que não caísse. O homem foi extremamente gentil. Ajudou-me a ligar o carro com uma ligação direta utilizando uma moeda que eu tinha de segurar para manter o contato. A polícia chegou. Anotou a ocorrência e pediu para que depois comparecesse à delegacia para efetivar a queixa. Despedi-me agradecendo. Chegando à subida da rua de minha casa o carro morreu. Eu tentava em vão dar nova partida, fazendo barulho que aguçou a curiosidade de um vizinho que me vendo subir com a mão para trás, mão esta que segurava a calça, gritou: - O que é que você tem ai atrás? Já sem nenhuma cautela e nenhum pudor, virei-me deixando a calça cair e respondi: - Só a bunda!

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